Pois é… O homem é um “animal” egoísta, ganancioso, interesseiro, competitivo e arrogante. A sua racionalidade é um mero instrumento para satisfazer as suas paixões. Acha que já comecei exagerando? Tenha coragem de analisar a si mesmo e ao próximo… Os conceitos de bem e mal variam conforme o proveito que deles podem ser tirados, pois seus desejos têm objetivos distintos e estão sujeitos a mudanças. Por exemplo, o bem pode ser enquadrado como o que satifaz os apetites de glória, dinheiro e poder.
O homem tem a necessidade de subjugar o próximo, pois no estado de natureza, que seria o estado de guerra, todas as coisas são disputadas por direito natural e absoluto. Por isso, há três características visíveis na personalidade humana: primeiro, a competição; segundo, a desconfiança; e terceiro, a glória. A primeira leva os homens a atacar os outros visando lucro. A segunda, a segurança. A terceira, a reputação. Os primeiros praticam a violência para se tornar senhores das pessoas, mulheres, filhos e rebanhos de dominados. Os segundos, para defende-los. Os terceiros por ninharias, como uma palavra, um sorriso, uma diferença de opinião e qualquer outro sinal de desprezo, quer seja diretamente endereçado a suas pessoas, quer indiretamente a seus parentes, amigos, nação, profissão ou seu nome…
Analisando as atitudes do homem, notamos que competir é algo que o ensoberbece e se for necessário, para alcançar o triunfo, ele esmaga os seus semelhantes. Essa competição é inerente ao homem e vem desde os tempos da caverna onde homens competiam como animais pela posse de suas parceiras. Atualmente, isso se torna latente nas competições esportivas, nos concursos, nas escolas e mesmo entre mulheres onde uma boa parte compete com a outra em termos de beleza e parceiros sexuais.
Com o advento do capitalismo, a coisa piorou, porque foi justamente o capitalismo que retomou o princípio da competição. Amigos deixam de ser amigos em firma de trabalho pra mostrar que é melhor que o companheiro. A cooperação é deixada de lado, imperando a competição que comanda a mente dos gananciosos. Dessa forma, a solidariedade ficou de lado e o homem no intuito de ser o melhor de todos, termina por se isolar na própria escravidão da busca sempre mais evidente de TER, deixando de lado os valores que o tornaria feliz, preferindo mesmo TER do que SER – nem que para isso, tenha que esmagar os que se colocam em seu caminho. Lamentável realidade humana.
“O orgulho leva à destruição, e o espírito arrogante à ruína”. C. S. Lewis.
Todo ser humano, no nível em que se encontra, é um indivíduo carregado de defeitos e portador de outras tantas virtudes. As pessoas admitem que têm ‘mau-gênio’, que são mau-humoradas, preguiçosas, que são covardes ou que utilizam a mentira para obter vantagens; mas são poucos os que se acusam de possuir o maior defeito de todos: o orgulho.
De acordo com o pensamento cristão, o orgulho é o vício básico, que leva a todos os outros vícios. Na resposta à questão 759 de O Livro dos Espíritos os sábios da espiritualidade confirmam: “orgulho e vaidade: duas chagas da humanidade”.
Por ser um defeito altamente competitivo, leva o indivíduo a constantemente se comparar aos outros, a tal ponto de não sentir prazer em simplesmente possuir algo, porque este algo tem que ser em quantidade/qualidade superior ao objeto de sua comparação. Neste axioma, a felicidade não está em ser rico, belo ou inteligente, mas, segundo os orgulhosos, em ser mais rico, mais belo e mais inteligente que os outros. Quase todos os males atribuídos à cobiça, à vaidade, ao egoísmo e à inveja possuem sua raiz no orgulho.
Enquanto o desejo moderado de crescimento leva o homem a progredir na vida, ter uma condição material/intelectual melhor, o orgulho o leva a sempre querer mais, nunca se satisfazer com o que já possui e a agir, muitas vezes, de maneira inescrupulosa para atingir seu objetivo.
A presunção afasta o homem de Deus, pois dificilmente o indivíduo orgulhoso admite que existe algo mais poderoso e que está acima da sua vontade. Quando se admite religioso, normalmente age como o fariseu da parábola (Lc. 18: 9 a 14) que rende graças a Deus por não ser como o resto dos homens ladrões, injustos e adúlteros como é, na sua opinião, o publicano; ou seja, pratica um culto externo, para si mesmo, baseado no cumprimento de dogmas, sem buscar internamente as causa das imperfeições e o crescimento espiritual.
Muitos escondem a roupa do orgulho sob a capa da timidez, não se expondo às vistas alheias com medo das críticas; outros disfarçam sua empáfia como caridade no auxílio ao próximo, sendo esta uma ajuda pretensiosa, humilhante, tendenciosa, sem altruísmo algum; alguns utilizam o poder ganancioso, extrapolando o sentido cooperador, pela simples vontade de dominar e manipular. O orgulho se disfarça das mais variadas formas, algumas muito sutis, e para combatê-lo dentro de si, exige-se muito esforço e abnegação.
Segundo Allan Kardec, em Obras Póstumas (FEB), a principal causa do orgulho reside na idéia falsa que o homem faz de sua natureza, do seu passado e do seu futuro. Por não saber de onde vem, ele se crê mais do que é; e não sabendo para onde vai, concentra na vida terrena, todo o seu empenho, ansiando por satisfazer todos seus gozos, atropelando sem escrúpulos, se necessário for, seu semelhante.
Quando se pensa que não se tem presunção, isto significa, na verdade, que se é extremamente presunçoso. “A humildade é uma coisa estranha. No minuto que achamos que a temos, já a perdemos” – esta máxima mostra o quão difícil é nos tornarmos humildes.
Se alguém quiser adquirir a humildade, o primeiro passo é admitir que é orgulhoso. É um grande passo. Nada pode ser feito antes disso.
O orgulhoso, basicamente, é um indivíduo preocupado excessivamente consigo mesmo, com o seu bem-estar e com o que os outros estão pensando a seu respeito. Uma das formas de combater esse defeito é esquecer-se de si, procurar prestar mais atenção às coisas que o cercam, dando importância e ocupando-se das necessidades do próximo.
A reencarnação coloca todos como seres iguais em oportunidades e aprendizados, sendo cada um, único, inigualável e imprescindível, com os mesmos direitos e deveres – este pensamento favorece a perda do sentimento de superioridade e orgulho. Compreender sua origem e destinação, buscando objetivos nobres para a existência é alicerce básico para a mudança.
A modéstia torna mais sábio o saber, mais bela a beleza, mais meritória a caridade. Se refletirmos que a grande maioria dos homens que mudaram o mundo, a começar pelo mestre Jesus, tinham como característica básica a humildade, racionalmente nos empenharemos para adquirirmos essa virtude.
Rodrigo C. A. V. / Kladwan